19 de abril de 2012

Bichos

Deitas-te sobre a noite com o seu mudo sussurro, despedaçado por cada réstia de esperança empregue nos teus passos resfriados. Danças abraçado à sombra, seduzido pelo amargo que te acaricia a pele e te despe do ardor das palavras. Escorre-te dos olhos ressequidos o sentido, consumindo as vestes que te cobriam o corpo enrugado.Preso no reflexo da miséria projectada no teu rosto desfeito, corrói-te o ácido nas veias desse olhar que nunca chegou, nunca foi dito. Colhes as pernas, nada te resta, arrancas os lábios insolentes. Insolentes.Rastejando pelos corpos, azedados pela doçura da seda do seu azul putrificado, procura aquele que lhe queimou o peito com o veneno da sua voz delicada. Ao beijar os seus lábios enevoados desfaz-se em cinza, esvoaçando pelo ar do sufoco do seu sorriso esverdeado.

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